Friday 25 April 2008

A religião na Polónia

A religião na Polónia é um tema de discussão delicada, mas, sem querer ferir susceptilidades, gostaria de deixar aqui o meu testemunho.

Não conheci ainda nenhum polaco que se dissesse agnóstico ou ateu. Não quero com isto dizer que o facto de não se depositar fé num Deus ou de se recusar aceitar a existência de um, ou ainda de pensar que a verdade neste aspecto é impossível de alcançar; seja a melhor atitude, não é essa a questão. Simplesmente constato que a religião assume um papel significativo na vida dos polacos. E falar de religião na Polónia é falar no Catolicismo, na medida em que 96 % da população é católica.

Até há bem pouco tempo, pensei que se tratasse de um fervor católico pouco comum nos dias de hoje: as pessoas enchem as Igrejas ao domingo, todas as semanas. É um ritual que não falha. E não são apenas devotos de uma determinada faixa etária ou maioritariamente de uma faixa etária. Vêem-se pessoas de todas as idades, inclusive muitos jovens. Muitos são também os rapazes que optam por estudar para o sacerdócio, algo que em Portugal é cada vez menos frequente.

Aos domingos, há homilias todas as horas, começando às sete horas da manhã. As pessoas não têm, portanto, desculpas para faltar à missa, uma vez que há horários para todos os estilos de vida. Mas o mais impressionante é que em todas elas, a afluência de pessoas é massiva. A maioria dos polacos são, pois, polacos praticantes.

Como tal, questões como o divórcio, a legalização do aborto ou a união matrimonial entre homossexuais, entre outras, são quase um tabu, mesmo entre os jovens.
Agora, a questão que eu coloco é a seguinte: serão os polacos praticantes conscientes, isto é, conhecem a história e os factos, mantendo a sua fé com conhecimento de causa? Ou, pelo contrário, esta corrida à Igreja não é mais do que uma tradição?

Há já algum tempo, comecei a percepcionar este catolicismo massivo dos polacos como um acto social, rotineiro, um hábito de longa data. A Igreja é, para eles, um ponto de encontro. O conhecimento teorético da religião em si não é tão profundo quanto o que possamos pensar inicialmente. Mas este é um problema, eu diria, quase universal. As pessoas aceitam dogmaticamente os hábitos e tradições que as suas famílias lhes incutiram, sem se questionarem.

Suponho que o facto de o falecido Papa João Paulo II ser polaco, de seu nome Karol Jósef Wojtyła, tenha grande influência na população. Até porque não foi apenas mais um Papa, mas uma pessoa carismática, genuinamente solidária, que trabalhou incansavelmente para a tolerância e o diálogo interreligiosos. Além disso, a primeira parte do seu pontificado, que durou quase três décadas, foi marcada pela queda do comunismo na Polónia, na qual Lech Wałęsa, dirigente do sindicato de trabalhadores Solidarność (Solidariedade), considera que o Papa teve um papel de inconfundível relevância. Estou certa de que tais acontecimentos contribuíram para que o Catolicismo se afirmasse tal como se vê hoje na Polónia.

Associado ao tema da religião na Polónia, vem, inevitavelmente, a polaca radio Maryja, uma radio religiosa, que usa indevidamente a religião católica como arma política para atingir os seus fins. Extremamente conservadora e patriótica, apoia abertamente o partido Lei e Justiça (PiS), partido no qual se insere o actual presidente da Polónia Lech Kaczyński. Trata-se, portanto, de um meio de comunicação social tendencioso e parcial, que em vez de informar no sentido de um maior esclarecimento da opinião pública, é opressivo e manipulador. Ora, isto não é benéfico nem para a religião católica, nem para as pessoas em geral, que são dirigidas sem dar por nada. A informação isenta é um bem que deve ser fomentado, para que todos possam optar livremente pelas ideologias que querem seguir.

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