Tuesday 26 February 2008

Cronometrar é ganhar tempo

Viver implica estar inserido numa determinada realidade espácio-temporal, sujeita a mudança constante. Vivemos em função de um tempo, elemento imaterial, sucessão progressiva e ininterrupta de eventos consecutivos, inseparável do espaço.


Movimento perpétuo rumo ao infinito, o tempo é algo cruel, porque irreversível, não cessa nunca, segue sempre em frente e nunca olha para trás, não perdoa e deixa sempre as suas marcas. Por isso existe uma História, o presente e o porvir. Por isso existem épocas e gerações.


Ninguém o consegue agarrar – senão por breves instantes, as reminiscências da memória – e ninguém lhe pode fugir. Recuar no tempo, fazer pause ou acelerá-lo é algo que só é possível quando falamos de ficção ou no interior das nossas mentes, através da imaginação. A retrospectiva transporta-nos a lugares passados, que não mais se repetem. Podemos também projectar-nos no futuro, embora conscientes de que ao acordar continuamos embaraçados na teia linear e autónoma do tempo ele-mesmo. Recuperar o tempo perdido, isso sim, é possível e nunca é tarde demais.


Estou na Polónia. Há algum tempo atrás, quando ainda estava em Portugal, teletransportava-me em pensamento para aqui. Agora que me encontro aqui, sinto saudade, porque guardo lembranças de tudo aquilo que vivi anteriormente: volto, portanto, frequentemente no tempo. Poder-lhe-emos chamar a nostalgia do passado. Mas o tempo, esse, não volta atrás. Acontece também, por vezes, querermos esquecer o que vivemos. Então, concentramo-nos no presente ou aspiramos antecipar o futuro, mesmo sabendo que sonhar não significa vir a concretizar.


Entretanto, neste vai-e-vem do pensamento, o tempo passa subtil. Envelhecemos ao passar das horas, dos dias, dos anos. Mesmo que não nos sintamos velhos interiormente, a decadência gradual torna-se, com o tempo, bem visível do lado de fora.


O tempo é inalcançável, intocável e implacável. Tanto passa depressa como devagar, é fugaz ou eterno, contrariando permanentemente a vontade humana. Se estamos felizes, passa a correr, se estamos tristes, parece não passar. Se queremos que passe depressa, passa devagar e se queremos que passe devagar passa depressa. Tanto apaga como prolonga, tanto permite como impede. Se nos atormenta a dor, o tempo é insuportável e, quando a tormenta acabou, foi o tempo que a apagou. Se temos pressa ou estamos ocupados, o tempo revela-se curto, e se o tédio nos importuna, o tempo não ajuda.


Controverso, o tempo desgasta e constrói, diminui e engrandece, tudo depende da perspectiva sob a qual o encaramos. Senão, atentemos: a velhice, por exemplo, é sinónimo de debilidade e sabedoria. Por outro lado, o conhecimento necessita de tempo para se consolidar, toda a construção supõe um investimento de tempo e, posteriormente, está sujeita à própria erosão do mesmo.


Em suma, o tempo controla e limita-nos, nada somos sem ele. Existimos porque há um tempo e para tudo precisamos dele. Somos seus prisioneiros. Não obstante, julgo poder dizer que temos também nós uma forma de poder sobre o tempo, esse omnipotente que nos transcende: aproveitá-lo. Pois o tempo quando aproveitado é precioso. Quer queiramos quer não, o tempo arrasta-nos com ele, é inelutável. Há que acompanhá-lo activamente e não estagnar. Metaforicamente falando, parar no tempo é manter-se alheio às mudanças que nos envolvem, viver alienado, quando tudo em redor se transforma, evolui. Há que saber usar o tempo, fazer dele um aliado, e não apenas deixá-lo passar, indiferentes. Como a vida.


Viver é agarrar o momento se este nos faz sentir bem, reproduzindo-o, ou deixar o tempo fluir se nos faz sentir menores, porque, como o tempo é imparável, não há problema que o alcance. Por mais morosos que sejam, os problemas revelam-se sempre efémeros, na medida em que para tudo existe uma solução, ainda que esta tarde em chegar. Dar tempo ao tempo: esperar nem sempre é sinónimo de desespero, se pensarmos no tempo como ferramenta de catarse, de libertação. Importa saber despender o tempo da melhor forma possível, saber optimizar e relativizar, porque a vida é curta – como diz a voz empírica – e aproveitar o tempo é viver.

3 comments:

Cristoval said...

To wspaniałe wiedzieć, że jesteś tak uduchowioną osobą, że szukasz odpowiedzi, sposobów na lepsze życie, i że się dzielisz swoimi spostrzeżeniami z innymi, mam sporo do przemyślenia po tym eseju, pozdrawiam gorąco

Unknown said...

Filhinha, gostei da tua reflexão.
Brilhante!
Sei que tu me achas suspeita para falar do que escreves, mas realmente adorei!

Anonymous said...

Para concluir a tua dissertação, resta-me dizer k somos seres cronófagos, ou seja k consumimos o tempo como outra coisa material qualquer.gostei.hasta.bjão- jota esse